quarta-feira, 8 de junho de 2011

Cuido detalhadamente da maquiagem, pra que fique im-pe-cá-vel. Blush marrom-alaranjado, batom rosa nos lábios e rímel alongador. Vestes harmoniosas, pensadas por horas à fio. Ankle boots nos pés, e a rua como caminho notívago. Duas quadras, e ei moça: sua meia-calça está desfiada. À cem metros do salão de estas. E obrigada por avisar, mas que se dane. Presto atenção aos detalhes, e esqueço o conjunto inteiro. Cabeça nas nuvens, olhos na Lua. Distraída como sempre, é incontável o número de chaves perdidas, casacos esquecidos, bolsas em cima de mesas abandonadas. Dá pra prestar mais atenção, menina? Olha, dar, até dá. Mas quanto mais me empenho em me concentrar pra que tudo saía perfeito, e sem nenhum esquecimento, caio novamente em distrações febris e passageiras. Naquela esquina com cheiro de pizza de banana; na mancha avermelhada do meu vestido; naquela rima em verso, que grudou na cabeça e não saí. Nas partes bonitas, de um todo. O que nem sempre é distração, pode virar ação. Palavras, contextos, inspiração. (...)
E aquela pequena menina tinha tudo. Tinha amor, uma família completa, dinheiro, uma vizinhança ótima, uma mãe normal, um pai carinhoso, e uma melhor amiga espetacular. Até que o amor foi-se acabando, a família ficou incompleta, o dinheiro ficou curto, a vizinhança mudou, a mãe que se dizia normal não era tão normal assim, o carinho do pai já não era o mesmo e aquela amiga espetacular acabou a decepcionando! Tudo mudou pra ela, a vida dessa pequena já não era a mesma, e nem ela era a mesma, faltava um brilho no olhar, um sorriso no rosto, e sua vida normal, ou que se dizia normal. Não havia muito que fazer com aquela pequena menina, pois acabou-se tudo quando a vida dela se transformou! Ela chorava, esperneava, queria sua vida de volta! Queria seu sorriso de volta! Passando-se os tempos ela percebeu que uma coisa não havia acabado, o amor! Ela tinha muito amor, de sua mãe, mesmo sendo um pouco 'anormal', de sua família, mesmo incompleta, de sua nova vizinhança que a admirava, de seus novos amigos que a amava, e de uma pessoa especial que havia encontrado! Distanciou-se um pouco de seu pai, por motivos justos, ou não. - Ele continuava sendo seu pai, mesmo depois de qualquer coisa que tenha feito! - Isso é o que todos diziam a ela. Passou a gostar de sua nova, nem tão nova assim, vida. Mas cada dia é um dia, cada passo é um passo, e as coisas passam. Hoje ela está bem feliz, talvez bem mais feliz do que era com toda sua mordomia. Hoje ela pode cantar ao som dos pássaros e dar graças deus por ter encontrado pessoas especiais como as que estão com ela, e mais uma vez posso ver que o amor nunca acaba, mesmo que pequeno, ele nunca acaba! Mas não cheguei ao fim ainda, essa história tem um longo percurso, espero eu, só não posso reescrever o que Deus já escreveu para essa pequena, já nem tão pequena assim, menina.